EDITORIAL - CONCEIÇÃO MACHADO

 

Verde é esperança!

 

As bibliotecas universitárias têm como missão primordial proporcionar as melhores condições possíveis de investigação e ensino às suas comunidades académicas, contribuindo para o processo de aprendizagem e de produção científica. Um dos seus focos é a oferta de produtos e serviços que tornem a informação acessível a todos. Na era das novas tecnologias, as bibliotecas têm um papel insubstituível e crescente na organização do acesso ao conhecimento. Já não basta serem fiéis depositárias das coleções. As bibliotecas não são apenas os edifícios, tampouco os acervos, as bibliotecas são as pessoas e o papel que cada uma desempenha, falamos sobretudo de capital humano.

Em 2002, a IFLA (International Federation of Library Associations and Institutions) publicou a Declaração acerca das Bibliotecas e o Desenvolvimento Sustentável em que sublinha que os serviços de biblioteca devem promover o desenvolvimento sustentável e assegurar a liberdade de acesso à informação. Em 2015, a referência às bibliotecas e ao seu papel na implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável obtida pela IFLA junto das Nações Unidas permite igualmente dar uma maior visibilidade ao seu trabalho - Bibliotecas para o Desenvolvimento e a Agenda 2030.

Por seu lado, desenvolve-se também o conceito de Biblioteca Verde focado principalmente na arquitetura e construção sustentáveis com materiais renováveis, na aposta no design de qualidade, na gestão de recursos naturais e ambientais, na eficiência energética e na educação ambiental numa ótica de diminuição da incompatibilidade entre o desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo atuais.

A relação entre bibliotecas, responsabilidade social e meio ambiente pode não ser fácil, mas os bibliotecários não são alheios ao processo de consciencialização social e ambiental. Estão atentos às transformações sociais e abertos a novas reflexões que pautam as suas práticas quotidianas.

Ao longo dos anos, a Biblioteca Celestino Domingues tem procurado fazer o que está ao seu alcance no que concerne a sustentabilidade e a responsabilidade social, assumindo diversas práticas, ações, produtos e serviços sustentáveis – fornecemos um espaço físico adequado que proporciona um ambiente de estudo, sala de trabalho e pesquisa com computadores e acesso à internet para utilização de todos, promovemos a comunicação através de suporte digital evitando os folhetos, ou algo que implique o consumo desnecessário de papel, adotámos o e-mail e as redes sociais para comunicação diária, privilegiamos a disponibilização de conteúdos digitais pertinentes no nosso site, diligenciamos a eliminação responsável de resíduos sólidos (reaproveitamento e disponibilização aos utilizadores de folhas para rascunho, confeção de blocos de papel para uso dos técnicos, colocação em contentores próprios de todo o papel, tinteiros e afins, etc.) e doamos múltiplas publicações.

Procuramos diariamente contribuir para o aproveitamento ou para a correta destruição de bens que, de outra forma, seriam desperdiçados com os inerentes custos ambientais. O desenvolvimento tecnológico, a enorme produção documental e a falta de espaço físico, obrigam a uma cuidada seleção e recolha de informação/documentação credível e adequada. O acervo da Biblioteca Celestino Domingues tem vindo a ser enriquecido com ofertas espontâneas de várias entidades e pessoas singulares. Estes materiais são sujeitos a um processo de seleção que obedece a várias premissas relativas ao assunto, à relevância técnico-científica, ao idioma, ao valor histórico, à atualidade do tema abordado, etc. A estatística de uso dos materiais é igualmente necessária para a tomada de decisão no processo de seleção ou descarte.

Numa ótica de responsabilidade social e de combate ao desperdício mantemos na área de receção da biblioteca uma estante com publicações diversas bem como duplicados de periódicos para oferta aos nossos utilizadores interessados e, assim que possível, reencaminhamos o restante material excedentário em colaboração com a HELPO, organização não governamental do concelho de Cascais que se encarrega do transporte para fora do país.

Nos últimos anos doámos algumas centenas de documentos: em 2009 enviámos 633 livros destinados a equipar bibliotecas no Norte de Moçambique; em 2014, 100 documentos foram entregues à Biblioteca da Escola de Hotelaria e Turismo de Cabo Verde; em 2018 oferecemos 17 livros à Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana e, por último, em novembro, chegaram a Moçambique 543 documentos oferecidos à Universidade Lúrio – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.

A biblioteca poupa recursos, está atenta às dinâmicas sociais, às exigências e necessidades da comunidade que serve, procurando desenvolver serviços adequados em prole da melhoria contínua e do bom desempenho organizacional.

Procuramos dar o nosso melhor com as ferramentas que temos, não temos a Biblioteca Verde que almejamos, mas a esperança é a última a morrer…

 

 

Conceição Machado

Coordenadora da Biblioteca