CSH na ESHTE

A área científica de Ciências Sociais e Humanidades (CSH) na ESHTE: dois trabalhos

 

A área científica de CSH na ESHTE diz respeito às ciências que estudam a dimensão não biológica do comportamento humano e as produções, estruturas, organizações e instituições que os seres humanos criam individual e colectivamente, consciente e inconscientemente, moldando as nossas vidas e o significado que lhes atribuímos. A base das CSH assenta na compreensão das produções humanas, materiais ou imateriais, a nível social, cultural, económico, político, cultural e artístico. Assim, trazemos para a ESHTE contributos de: sociologia, psicologia, economia, antropologia, etnologia, direito, história, ciências da comunicação humana, estudos culturais e literários e filosofia e ética. Igualmente, asseguramos formação em metodologia científica, até porque a ciência é uma criação humana, fornecendo instrumentos destinados ao desenvolvimento do conhecimento científico das realidades em observação.

 

Cabe às CSH dar a conhecer e operacionalizar para o universo genérico do turismo - enquanto fenómeno social e campo da actividade profissional - o que tais ciências oferecem, a dois níveis:

 

(1) Formar e orientar os estudantes em relação aos saberes e modelos de intervenção periciais que são património das ciências acima referidas e que têm relevância para um futuro bom desempenho de profissionais de nível médio-superior e superior nos campos específicos da hotelaria, do turismo, da animação e da restauração, bem como para compreenderem o seu contexto social, económico, político e cultural e nele actuarem eficazmente.

 

 

2) Contribuir para o desenvolvimento de capacidade de reflexividade crítica, que não se restrinja ao desenvolvimento de competências na resolução de problemas ou a ser criativo. Estas, sem pensamento crítico, pouco contribuem para a formação de seres humanos autónomos e conscientes, ou para o desenvolvimento de competências alargadas no sentido dado por Philippe Perrenoud, essenciais para se lidar adequadamente com situações socialmente complexas e não lineares.

 

Apesar do fascínio exercido por expressões como “inovação”, “criatividade” e “capacidade de resolução de problemas”, a verdade é que o repetido pedido de mudança de mentalidades, o impacto que têm sobre nós as célebres crises globais económico-financeiras e políticas, os crónicos problemas de produtividade, a manutenção da baixa mobilidade social, e a dificuldade na modernização da nossa economia que vá além da tecnologia são os melhores testemunhos de que é “preciso que algo mude para que tudo continue (mais ou menos) na mesma”. Há mudanças, claro, por vezes para melhor, outras para pior, mas a nossa realidade muda muito menos do que o uso e o abuso de palavras sonantes (tantas vezes anglicizadas para dar um ar contemporâneo) nos leva a crer. O desenvolvimento de pensamento crítico bem como a tomada de consciência da complexidade multidimensional da realidade social do futuro universo profissional dos nossos estudantes são cruciais para se equacionar alguma hipótese de quebrar o feitiço.

 

Assim, este segundo contributo das CSH implica alertar os estudantes para a diversidade, por vezes conflituante, de propostas científicas sobre a mesma problemática ou tema das unidades curriculares, bem como chamar à atenção para as múltiplas perspectivas na observação da realidade. Igualmente, é importante dar a perceber que, cada modelo de intervenção, teoria ou paradigma científicos tem uma relação indissociável com os contextos sócio históricos e até, por vezes, com ideologias.

 

Combater explicações individualistas ou naturalistas relativamente a factos que têm origem num dado contexto social é mais uma tarefa. Pensar criticamente implica igualmente questionar a própria definição e os contornos do problema que nos pedem para resolver. Por fim, demonstrar que a citada diversidade não significa que ciência seja igual a ideologia, senso comum ou opinião, e que é necessário fundamentar o que afirmamos articulando teoria e empiria (factos a observar) através de práticas sistemáticas de metodologia científica.

 

Abordar estas questões não implica de todo uma nova unidade curricular, mas é sobretudo uma forma diferente de abordar os temas leccionados. É também uma condição necessária para o desenvolvimento das chamadas competências sociais.

 

Um exemplo final de aplicação desta proposta: orientar os estudantes para que, nas suas avaliações (ensaios, apresentações, testes, etc.), apresentem e comparem, mesmo que sucintamente, os principais aspectos da diversidade de propostas, olhares, modelos de intervenção ou teses que haja sobre o tema que estão a estudar ou a propor, exigindo o uso de uma escrita e de uma argumentação científicas.