Inserida na unidade curricular Field Lab da pós-graduação em Turismo Literário da ESHTE, decorreu entre 23 e 25 de maio de 2025, uma imersão nos territórios de Paredes de Coura e de São Miguel de Seide (Famalicão).
O programa da visita estudo encetou no Arquivo Municipal de Paredes de Coura. Coube à técnica responsável, Dr.ª Fátima Cabodeira, apresentar as principais atividades desenvolvidas no contexto da preservação do património documental concelhio. Foi enfatizado aquele que se encontra sob a sua custódia e que se centra no espólio do escritor Aquilino Ribeiro e da família Dantas Machado, e que tem permitido desenvolver um conjunto de atividades expositivas e editoriais que tanto fortalecem a estratégia de turismo literário empreendida pelo município de Paredes de Coura.
O segundo momento recaiu na descoberta do Centro de Estudos Mário Cláudio, situado na freguesia rural de Venade. Os formandos tiveram o ensejo de descobrir um projeto cultural de cariz inovador que relaciona a literatura e o território envolvente, assente em modalidades de cooperação que otimizam o desenvolvimento da coesão territorial e a conformação de práticas de desenvolvimento turístico alternativo. Repercutiu-se de particular relevância a visita que fizeram às suas instalações descobrindo as salas onde se encontra o valioso acervo documental do autor Mário Cláudio, a sala polivalente destinada a atividades culturais e o edifício anexo que tem permitido acolher inúmeros investigadores que procuram este centro para estudar a obra do escritor.
O terceiro momento valorizou o projeto da Casa Grande de Romarigães, que toma por base a paisagem literária efabulada por Aquilino Ribeiro, e que é sustentada por um conjunto de atividades que gravitam em torno da sua narrativa. Inserido numa paisagem marcadamente rural, junto à estrada nacional, a riqueza do património ancestral espalha-se pela região envolvente, e amplia a massa crítica do projeto que se encontra a ser desenvolvido. Tende a ser lido no contexto de uma dinâmica potenciadora do concelho de Paredes de Coura, do seu território físico e da sua comunidade local, no fundo o principal agente deste espaço e deste quadro.
Alertados para estes compromissos, os formandos começaram por visitar o edifício de dois pisos, junto à capela, de planta quadrada, onde em tempos, por iniciativa do Conselheiro Miguel Dantas, funcionou uma escola pública e que foi motivo de uma reabilitação, sob os auspícios da Câmara Municipal de Paredes de Coura e da família do escritor. Assim, no piso O ficaram a saber mais sobre a história de Aquilino Ribeiro, seguindo uma linha de tempo e explorando as vitrines e ecrãs interativos, que mediante técnicas de realidade aproximada, recriam a cronologia da Casa Grande de Romarigães e o desenvolvimento da respetiva paisagem literária.
A visita à capela dedicada a Nossa Senhora do Amparo, onde se visualiza uma curta-metragem de animação, que apresenta como mote a relação de Aquilino com a natureza, bem como a visita ao corgo, um dos lugares cénicos do romance, permitiu que os formandos assumissem um papel ativo no enredo procurado, como em algumas experiências turísticas singulares. Esta experiência imersiva revelou-se ainda mais enriquecida por terem assistido a uma conversa subordinada ao tema “Aquilino, o Cidadão”, realizada no Piso 1 do espaço reabilitado da Casa Grande de Romarigães, e a uma projeção do documentário “Aquilino, a Casa e o Sopro de Deus”, de João Pedro Marnoto, no Centro Cultural Municipal de Paredes de Coura. No fundo, a visita de estudo ao concelho de Paredes de Coura serviu para que os formandos registassem de que alguns territórios literários se prestam para que a partir deles se construam projetos turísticos alternativos com sustentabilidade estratégica.
No último dia da imersão, foi realizada uma visita à Casa de Camilo, em S. Miguel de Seide, num momento de grande enriquecimento cultural, marcado pelo conhecimento, pela valorização da memória histórica e pela celebração da literatura portuguesa. A visita permitiu um contacto direto com a vida e obra de Camilo Castelo Branco, através de um percurso cuidadosamente conduzido por Reinaldo Ferreira, que soube enriquecê-lo com passagens da obra camiliana, adaptadas ao ambiente de cada divisão, tornando a experiência ainda mais vívida, emotiva e memorável. Os formandos tiveram ainda a oportunidade de contemplar objetos que fizeram parte do quotidiano do escritor, testemunhos silenciosos e profundamente representativos de uma vida marcada pela criação literária e pela genialidade.
Esta atividade revelou-se particularmente significativa no percurso formativo dos participantes, constituindo-se como um momento de profunda reflexão intelectual e emocional, onde o diálogo entre o património literário, os territórios visitados e a identidade cultural foi plenamente explorado. A imersão nos lugares e nas memórias associadas às figuras e obras literárias foi acompanhada por momentos de partilha entre docentes e discentes, num ambiente informal e próximo, que favoreceu a construção coletiva do conhecimento. A experiência foi ainda enriquecida por uma diversidade de vivências gastronómicas, que permitiram descobrir os sabores locais e reconhecer o património alimentar como parte integrante da cultura dos lugares. Em conjunto, estes elementos proporcionaram uma compreensão mais profunda e integrada das relações entre literatura, espaço e identidade.