Editorial - Lurdes Calisto

Tendências do Ensino Superior Europeu

 

Recentemente a European University Association - uma associação que representa mais de 800 instituições de ensino superior em 48 países Europeus, apresentou o seu relatório sobre as tendências relativamente ao processo de Ensino-Aprendizagem nas instituições de ensino superior na Europa. O relatório refere-se aos resultados de um inquérito a 303 instituições de 43 países Europeus, entre os quais Portugal. 

Seguidamente, resumem-se as principais tendências identificadas pela European University Association:

  1. Estratégias de Ensino-Aprendizagem

O processo de ensino-aprendizagem tornou-se uma prioridade institucional, dando lugar à criação de estratégias e estruturas de apoio. As estratégias institucionais tendem a focar-se: (1) na cooperação e intercâmbio internacionais como forma de melhoria do ensino-aprendizagem; (2) no desenvolvimento do pessoal docente; e (3) outras medidas para a melhoria do ensino. Muitas instituições desenvolveram capacidades para a investigação dos próprios métodos de ensino utilizados através, por exemplo, de Departamentos de Educação, Centros de Aprendizagem, etc.

  1. Coordenação nacional

Setenta e oito por cento (78%) das instituições confirmam a existência de uma estratégia nacional para o Ensino e Aprendizagem. Sistemas externos de garantia da qualidade e de financiamento são identificados como trajetórias a prosseguir ao nível do apoio das instituições de coordenação nacional.

Muitas instituições referem que a existência de iniciativas nacionais supra-instituições: as levou a desenvolver formas de melhoria do ensino; chamam a atenção para a importância do Ensino; e, contribuíram para a paridade entre ensino e investigação. Por outro lado, existe alguma preocupação de que as medidas de âmbito supra-institucional resultem em maior burocracia e restrinjam a autonomia e liberdade académicas.

  1. Planos de estudo

Inicialmente, o processo de Bolonha focava-se na comparabilidade de graus para efeitos de mobilidade e cooperação. Posteriormente foram adicionados os conceitos de resultados de aprendizagem e de aprendizagem centrada no estudante. Três quartos das instituições confirmam que identificam os resultados de aprendizagem em todos os programas e, em geral, existe uma perspetiva positiva sobre a implementação destes processos. Contudo, em 40% dos casos foi identificada a necessidade de mais meios para apoiar os docentes a implementar esta abordagem. Na maioria das instituições o desenvolvimento curricular é percebido como uma tarefa partilhada, sendo muitas vezes nomeado um grupo de trabalho para o efeito. Quanto à evolução curricular, os resultados sugerem um processo de mudança gradual no sentido de processos de educação mais flexíveis e de aprendizagem suportada em meios digitais.

  1. Abordagens de ensino, pedagogia, metodologias

Melhorar as abordagens de ensino é uma das prioridades das IES Europeias. Estas mudanças dependem da combinação adequadas entre a orientação e apoio do topo da organização (top-down) e o dinamismo individual (bottom-up). A inovação vem sobretudo dos indivíduos e departamentos, mas a liderança institucional tem um papel importante na disseminação e generalização das práticas inovadoras. O ensino deve ser visto como uma responsabilidade coletiva. Os docentes, individualmente, têm um papel relevante, mas também é necessária coordenação e apoio (por exemplo, coordenação pedagógica, pessoal de apoio aos docentes e serviços de apoio ao estudante). A modalidade blended learning é muito comum nas instituições inquiridas, já a oferta onlinedepende essencialmente da missão da instituição e do tipo de estudantes a quem se dirige.

  1. Pessoal docente

Em muitas instituições, as responsabilidades de ensino são partilhadas por pessoal com diferentes perfis. Dependendo do sistema e do tipo de instituição, investigadores, especialistas, e estudantes contribuem para o processo de ensino. Apenas 14% das instituições inquiridas afirmaram que os professores asseguram mais de 50% da carga letiva. Nas instituições inquiridas as posições com responsabilidades de ensino podem requer um grau académico, experiência de ensino, avaliação do desempenho enquanto docente e a participação em ações de melhoria do ensino. Contudo, estes requisitos nem sempre são necessários em todos os sistemas e instituições, e são também interpretados de forma diferenciada. O grau académico exigido mais comum é o Doutoramento. Setenta e sete por centos (77%) das instituições oferecem cursos de melhoria do ensino para os seus docentes, enquanto 37% os tornaram obrigatórios.

A European University Association conclui que apesar das disparidades entre os sistemas nacionais e as diferenças socioecónomicas entre os países, existem tendências que são partilhadas. Conclui ainda que, os resultados sugerem que os Governos nacionais deveriam apoiar e reforçar as estratégias institucionais e os processos transformativos ao nível do ensino-aprendizagem, e sugerem também a importância das parcerias e colaboração, dentro das IES e entre estas e as comunidades locais, regionais e internacionais envolvidas no ensino-aprendizagem.

 

(Nota: Recomenda-se a leitura completa do relatório; disponível em https://eua.eu/resources/publications/757:trends-2018-learning-and-teaching-in-the-european-higher-education-area.html)